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A Tempestade no Horizonte Digital: Como a PL 2331/2022 Pode Mudar o Jogo para o Marketing Digital e a Creator Economy

  • Foto do escritor: Luciano Frascetto
    Luciano Frascetto
  • 23 de jul.
  • 7 min de leitura

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Nos corredores da internet, um debate intenso e crucial está ganhando força, e ele pode redefinir o futuro do marketing digital no Brasil, especialmente para a vibrante Creator Economy e as agências que a impulsionam. Estamos falando da PL 2331/2022, um Projeto de Lei que, à primeira vista, busca modernizar a regulação do audiovisual, mas que esconde impactos profundos e potencialmente devastadores para o ecossistema digital como o conhecemos.


Este artigo da Cloudtive Marketing Digital tem como objetivo desvendar essa proposta, explorar suas implicações e, mais importante, guiar você e sua agência pelos caminhos que podem ser trilhados para não apenas sobreviver, mas prosperar em um cenário de mudança.


O Coração da Tempestade: Entendendo a PL 2331/2022


Para compreender o impacto, é fundamental entender o que a PL 2331/2022 realmente propõe. Tudo gira em torno da CONDECINE (Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional).


O que é a CONDECINE?


A CONDECINE é uma taxa já consolidada no Brasil. Sua função principal é arrecadar fundos para fomentar e desenvolver a indústria cinematográfica nacional. Historicamente, ela incide sobre diversas atividades ligadas ao audiovisual, como a exibição de filmes em cinemas, a distribuição de obras e a produção de comerciais veiculados em mídias tradicionais, como a televisão. É um mecanismo de proteção e incentivo cultural.


A Proposta da PL 2331/2022: Ampliando o Alcance da Taxa


A Deputada Jandira Feghali, por meio do Projeto de Lei 2331/2022, propõe uma alteração significativa na Medida Provisória 2.228-1/2001. A essência da mudança é estender a cobrança da CONDECINE para qualquer conteúdo publicitário veiculado em plataformas digitais de vídeo. Isso inclui gigantes como YouTube, TikTok, Instagram e outras.


Na prática, isso significa que não seriam apenas os comerciais "tradicionais" veiculados em plataformas digitais que seriam taxados. A mira está também no vasto universo dos criadores de conteúdo e influenciadores digitais que produzem e monetizam vídeos com publicidade (os famosos "publis" ou parcerias pagas).


As Implicações Práticas: Um Cenário de Mudanças Drásticas


Se a PL 2331/2022 for aprovada nos termos atuais, o dia a dia de criadores e agências passará por uma transformação radical.


1. A Exigência de Vínculo com Produtora Nacional


Este é um dos pontos mais críticos. A proposta obriga que criadores de conteúdo que desejem veicular publicidade online tenham um vínculo formal com uma produtora audiovisual nacional. Para muitos influenciadores, que operam de forma independente, esta é uma barreira de entrada imensa.


  • Impacto no Criador: A liberdade e a agilidade que caracterizam a produção de conteúdo digital seriam sacrificadas. O influenciador precisaria de uma estrutura formal que talvez não possua ou que não se encaixe em seu modelo de trabalho.

  • Para Agências: As agências de marketing digital, que gerenciam campanhas com esses influenciadores, teriam que garantir que todos os seus parceiros estejam devidamente vinculados a uma produtora, adicionando uma camada de complexidade burocrática e legal gigantesca.


2. A Assustadora Taxação para Conteúdo "Estrangeiro"


Aqui reside o potencial de maior estrago financeiro. Se um criador de conteúdo (ou uma agência) não conseguir comprovar esse vínculo com uma produtora nacional, seu conteúdo publicitário seria automaticamente considerado como "produção estrangeira". A consequência?


  • Multas Exorbitantes: O valor da CONDECINE para "produção estrangeira" pode chegar a R$ 250 mil por peça publicitária. Compare isso com os atuais R$ 4,4 mil (valor que já é da CONDECINE para produção nacional em outros contextos). Essa diferença é abissal e tornaria inviável qualquer campanha para a grande maioria dos players do mercado digital.

  • Risco Imprevisível: Para agências e marcas, isso introduziria um risco financeiro imprevisível em cada campanha, pois a não conformidade (ainda que por desconhecimento ou dificuldade de adequação) poderia resultar em multas catastróficas.


3. Pequenos e Médios Criadores e Agências: Os Maiores Prejudicados


O texto da PL, embora buscando modernizar a regulamentação, parece não considerar as especificidades e a dinâmica da Creator Economy, que é amplamente baseada na agilidade e na acessibilidade.


  • Burocracia Adicional: Para criadores independentes, a burocracia de se vincular a uma produtora, registrar cada peça, e garantir a conformidade seria um peso administrativo que eles não têm estrutura para suportar. Muitos simplesmente desistiriam de monetizar com publicidade.

  • Custos de Produção e Registro: Os novos custos de produção (ter que pagar uma produtora, taxas de registro) seriam repassados e impactariam diretamente a remuneração dos criadores e o orçamento das campanhas.

  • Perda de Autonomia e Espontaneidade: A essência do marketing de influência muitas vezes reside na autenticidade e na espontaneidade. A necessidade de formalizar cada etapa com uma produtora poderia burocratizar o processo criativo e reduzir a capacidade de resposta rápida a tendências.


O Desafio das Agências de Marketing Digital: Como Driblar essa Tempestade?


As agências de marketing digital estariam na linha de frente dessa mudança, atuando como ponte entre as marcas e os criadores. Os impactos seriam profundos, mas existem estratégias para mitigar os riscos e até encontrar novas oportunidades.


1. Imersão Profunda em Conhecimento Regulatória e Legal


Esta não é uma opção, é uma necessidade urgente.


  • Especialização em Compliance: Agências precisarão desenvolver expertise interna ou, mais realisticamente para as pequenas, firmar parcerias estratégicas com escritórios de advocacia especializados em direito audiovisual, digital e tributário. Entender a lei, suas nuances e as formas de interpretação será crucial. Ser a agência que guia o cliente e o influenciador através da burocracia pode ser um novo e valioso serviço.

  • Educação Contínua: A legislação pode evoluir. Manter-se atualizado sobre novas emendas, decretos ou decisões que afetem a PL é vital. Isso exige monitoramento constante e proatividade.

  • Advocacia Setorial: Engajar-se em associações de marketing digital (como a ABRADi), associações de influenciadores e de produtoras. A voz coletiva tem mais força para debater a lei, propor emendas que considerem as especificidades do ambiente digital e buscar soluções mais equilibradas.


2. Fortalecer Estratégias de Conteúdo Não-Audiovisual e Formatos Alternativos


Se a publicidade em vídeo online se tornar inviável, as agências precisarão pivotar e mostrar sua versatilidade.


  • Reafirmar o SEO e Marketing de Conteúdo Escrito: Otimização para mecanismos de busca (SEO) e a produção de conteúdo escrito (artigos de blog, e-books, whitepapers) se tornam ainda mais valiosos. Eles são imunes à PL e oferecem um excelente retorno sobre o investimento a longo prazo, construindo autoridade e gerando tráfego orgânico.

  • Explorar o Email Marketing: Campanhas de email marketing bem segmentadas, automação de fluxo de nutrição e estratégias de fidelização via e-mail podem se tornar uma alternativa poderosa para a comunicação direta com o público.

  • Publicidade Gráfica e em Áudio: Anúncios gráficos (banners, display ads), e anúncios em áudio (podcasts, spots em plataformas de streaming) podem se tornar os queridinhos para quem busca alternativas ao vídeo em redes sociais, e as agências precisam dominar esses formatos.

  • Foco em Comunidades e Nichos: Incentivar e gerenciar a construção de comunidades engajadas em plataformas menos visadas pela regulamentação audiovisual (grupos no Telegram, Discord, fóruns especializados) ou onde a monetização não é predominantemente via "publi" em vídeo.

  • Webinars e Eventos de Geração de Valor: Desenvolver e promover webinars, workshops e eventos online que foquem na entrega de valor e educação, em vez de publicidade direta. Isso constrói relacionamento, autoridade e pode gerar leads qualificados sem as amarras da PL.


3. Inovar em Modelos de Parceria e Produção Audiovisual


Para as campanhas de vídeo que ainda forem viáveis, a abordagem terá que mudar.


  • Alianças Estratégicas com Produtoras Audiovisuais: Pequenas agências podem formar parcerias sólidas com produtoras audiovisuais nacionais já estabelecidas e em conformidade com a CONDECINE. A agência atuaria como ponte, gerenciando o relacionamento com a marca e o influenciador, enquanto a produtora cuida da parte "legal" e técnica de "nacionalização" do conteúdo. Isso pode gerar acordos mais favoráveis para a agência e seus clientes.

  • Modelos de Compartilhamento de Custos: Discutir com marcas e influenciadores a possibilidade de diluir os custos da CONDECINE e das taxas de produção. A transparência na precificação será fundamental.

  • Incentivo ao Conteúdo Orgânico de Influência: As agências podem orientar os influenciadores a focar mais em conteúdo orgânico de marca (onde a menção ou recomendação é mais sutil e contextual, sem ser uma publicidade "direta" que caia na regulação) e reservar a publicidade paga explícita apenas para ações muito estratégicas e de alto valor, que justifiquem os novos custos.

  • Microlançamentos e Campanhas Teste: Para entender o real impacto financeiro e operacional, as agências podem propor campanhas-piloto menores, com orçamentos controlados, para aprender e ajustar as estratégias antes de grandes investimentos.


4. Fortalecer a Proposta de Valor e o Relacionamento com o Cliente


Em tempos de incerteza, a confiança se torna o ativo mais valioso.


  • Transparência e Consultoria: A agência precisa ser o porto seguro para o cliente. Explicar com clareza os desafios da nova lei, os novos custos e as estratégias adaptadas. Posicionar-se como um parceiro estratégico que ajuda o cliente a navegar pela complexidade do mercado.

  • Foco Implacável no ROI: Mais do que nunca, as pequenas agências precisarão provar o Retorno Sobre o Investimento (ROI) de cada real gasto. A argumentação precisa ser baseada em dados concretos, mostrando que, apesar dos novos desafios, as estratégias propostas ainda geram resultados mensuráveis.

  • Comunicação Proativa: Não espere o cliente questionar. Apresente os cenários, as soluções e as novas abordagens de forma proativa. Isso demonstra preparo e expertise.

  • Serviços de Valor Agregado: Além das campanhas, a agência pode oferecer consultoria em estratégia digital, análise de dados, treinamento para equipes internas do cliente, tornando-se indispensável.


Oportunidades em Meio à Crise: O Lado Positivo da Resiliência


Embora o cenário seja desafiador, as crises muitas vezes abrem portas para a inovação e a diferenciação.


  • Diferenciação no Mercado: Agências que se adaptarem rapidamente e desenvolverem expertise em compliance e novas formas de marketing digital podem se destacar da concorrência, posicionando-se como referências nesse novo cenário.

  • Estímulo à Criatividade: A restrição em um formato pode forçar a criatividade em outros. Isso pode levar ao surgimento de formatos inovadores de comunicação e engajamento que talvez não teriam sido explorados em um cenário "fácil".

  • Parcerias Mais Fortes: A necessidade de colaboração entre agências, produtoras e criadores pode levar à formação de alianças mais sólidas e eficientes no longo prazo.

  • Amadurecimento do Mercado: A regulamentação, embora dolorosa, pode forçar um amadurecimento do mercado digital, profissionalizando ainda mais as relações e processos.


Conclusão: A Necessidade de Adaptação e Inovação


A PL 2331/2022 é um sinal de alerta para toda a indústria do marketing digital no Brasil. Para as pequenas agências, ela representa um desafio considerável, capaz de impactar diretamente a viabilidade de seus negócios. No entanto, o marketing digital, por sua própria natureza, é um campo de constante adaptação e inovação.


Driblar essa tempestade exige uma combinação de conhecimento jurídico, flexibilidade estratégica, criatividade na execução e um compromisso inabalável com a entrega de valor ao cliente. As agências que conseguirem transformar esse obstáculo em uma oportunidade para refinar seus serviços, explorar novos caminhos e fortalecer seus relacionamentos estarão mais preparadas para não apenas sobreviver, mas para prosperar no futuro do cenário digital brasileiro.


Qual a sua principal preocupação em relação à PL 2331/2022 e como você acredita que sua agência pode começar a se preparar para ela? Entre em contato para um bate-papo sobre esse assunto

 
 
 

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